Mayra Calvette, que parteira!
Parteira de Gisele Bündchen ajuda dezenas de mulheres a ter seus bebês naturalmente
Mayra Calvette nasceu em casa por desejo dos pais quando o parto humanizado nem era moda – e hoje ajuda mulheres a seguirem o mesmo caminho
Sendo filha de um médico acupunturista e de uma enfermeira que valorizavam o parto humanizado, a decisão de seguir a carreira de enfermeira-obstetra foi natural para mim. Sempre tive curiosidade de saber como os bebês nascem. Desde pequena ficava encantada com todo o processo de gestação. Minha mãe teve cinco filhas de parto natural – de cócoras –, três em casa e duas no hospital. Durante nossa infância ela contava de um jeito muito entusiasmado sobre a chegada de cada uma. Eu nasci em casa e meu pai atendeu o parto, com a presença das minhas avós. Quando engravidou pela primeira vez, em1983, minha mãe começou a ler os livros dos médicos franceses Michel Odent e Frederick Leboyer, precursores do parto humanizado e referências mundiais no assunto. Eles pregavam que o nascimento deveria ser uma transição suave entre a barriga da mãe e o mundo exterior. Ao sair do útero, o neném deveria estar em um ambiente tranquilo, escutando a voz da mãe. O cordão umbilical não poderia ser cortado imediatamente para que a criança continuasse a receber os nutrientes enquanto aprendia a respirar sozinha. Minha mãe se identificou totalmente com as ideias deles.
Em 2004, aos 17 anos, entrei para a faculdade de enfermagem e comecei a estudar sobre parto natural. Dois anos depois passei a acompanhar o grupo Hanami, em Florianópolis, especializado em parto domiciliar. Paralelamente, fazia estágio em uma das maiores maternidades públicas da cidade, a Carmela Dutra, onde permaneci um ano.
Ali aprendi bastante ao vivenciar as práticas rotineiras de atenção ao parto. A maioria das mulheres prestes a dar à luz tinha pouca informação e acolhimento e sofria intervenções desnecessárias. Eu fazia o que estava ao meu alcance para tornar esse momento menos traumático, como incentivar a gestante a se movimentar, experimentar diferentes posições durante o trabalho de parto e levar o bebê direto para o colo da mãe após sair da barriga. Curiosamente, no parto do primeiro bebê que ajudei a nascer ali, quase não consegui aplicar esses preceitos. Eu acompanhava a gestante, fazendo massagem e
caminhando com ela, quando resolvi levá-la para o banho para relaxar. O bebê, um menino, nasceu no chuveiro! Foi lindo, apesar de inesperado. Hoje atendo em média seis partos por mês, em casa e em hospitais. Mas, na época do estágio, chegava a acompanhar até cinco nascimentos por dia.
Em 2004, aos 17 anos, entrei para a faculdade de enfermagem e comecei a estudar sobre parto natural. Dois anos depois passei a acompanhar o grupo Hanami, em Florianópolis, especializado em parto domiciliar. Paralelamente, fazia estágio em uma das maiores maternidades públicas da cidade, a Carmela Dutra, onde permaneci um ano.
Ali aprendi bastante ao vivenciar as práticas rotineiras de atenção ao parto. A maioria das mulheres prestes a dar à luz tinha pouca informação e acolhimento e sofria intervenções desnecessárias. Eu fazia o que estava ao meu alcance para tornar esse momento menos traumático, como incentivar a gestante a se movimentar, experimentar diferentes posições durante o trabalho de parto e levar o bebê direto para o colo da mãe após sair da barriga. Curiosamente, no parto do primeiro bebê que ajudei a nascer ali, quase não consegui aplicar esses preceitos. Eu acompanhava a gestante, fazendo massagem e
caminhando com ela, quando resolvi levá-la para o banho para relaxar. O bebê, um menino, nasceu no chuveiro! Foi lindo, apesar de inesperado. Hoje atendo em média seis partos por mês, em casa e em hospitais. Mas, na época do estágio, chegava a acompanhar até cinco nascimentos por dia.
Ainda estudante, conheci Gisele Bündchen por meio de um amigo em comum e ficamos bastante próximas. Quando ela engravidou, passamos a conversar muito sobre o assunto e eu a enviava livros e DVDs. Um mês antes de Benjamin nascer fui para os EstadosUnidos e fiquei à disposição dela. No dia do parto, Gisele estava super concentrada. Benjamin nasceu na água, e ela o colocou imediatamente nos braços. A chegada da segunda filha, Vivian, também foi na banheira, e eu fiquei muito feliz de poder acompanhar. Quando a gestante decide ter o bebê na água, há três opções: a banheira de casa, uma piscina infantil inflável ou um modelo importado de banheira inflável próprio para partos domiciliares, que é ligada na tomada para manter a água aquecida. Eu trouxe uma dos EUA e alugo para as mães.
Partos domiciliares como o de Gisele são para poucas grávidas. A mulher precisa estar muito segura para fazer essa opção. A maioria ainda prefere ter o bebê de forma natural no hospital. Meu trabalho começa no pré-natal, quando esclareço os mitos em relação ao parto humanizado. Os procedimentos de avaliação da gestante e do bebê são os mesmos realizados por um obstetra. A cada consulta meço a pressão da gestante e a altura da barriga, ouço os batimentos cardíacos do feto e avalio sua vitalidade. A diferença em relação às consultas convencionais são as longas conversas que tenho com a grávida e o marido. Pergunto sobre a vida toda da mulher, como ela nasceu, como é a relação com a própria mãe. Faço encontros regulares para que ela se sinta confiante e segura comigo. O parto natural contemporâneo combina o lado humano com a técnica. Não é só o paninho quente. Nós levamos todo o equipamento de segurança, oxigênio, aparelho de reanimação. E tem sempre o hospital como plano B.
Partos domiciliares como o de Gisele são para poucas grávidas. A mulher precisa estar muito segura para fazer essa opção. A maioria ainda prefere ter o bebê de forma natural no hospital. Meu trabalho começa no pré-natal, quando esclareço os mitos em relação ao parto humanizado. Os procedimentos de avaliação da gestante e do bebê são os mesmos realizados por um obstetra. A cada consulta meço a pressão da gestante e a altura da barriga, ouço os batimentos cardíacos do feto e avalio sua vitalidade. A diferença em relação às consultas convencionais são as longas conversas que tenho com a grávida e o marido. Pergunto sobre a vida toda da mulher, como ela nasceu, como é a relação com a própria mãe. Faço encontros regulares para que ela se sinta confiante e segura comigo. O parto natural contemporâneo combina o lado humano com a técnica. Não é só o paninho quente. Nós levamos todo o equipamento de segurança, oxigênio, aparelho de reanimação. E tem sempre o hospital como plano B.
Naturalmente existem situações complicadas. O momento mais difícil da minha carreira aconteceu durante um parto domiciliar. Havia dez familiares presentes. Todos eram contra a gestante ter o bebê em casa, o que gerou um estresse enorme. A toda hora alguém ameaçava chamar uma ambulância para levar a mãe à maternidade temendo pelo pior. A mãe ficou nervosa, o nascimento não evoluiu bem e ela teve um sangramento além do normal. Felizmente conseguimos contornar a situação. O clima de tensão jamais pode existir porque ele é contagiante. Quando os parentes são contra, sugiro até que os pais não falem sobre a intenção de ter o filho em casa e só deem a notícia após o nascimento.
Em 2010 fui aprofundar minhas pesquisas nos Estados Unidos, onde fiquei um ano. Fiz vários cursos e acompanhei o trabalho de parteiras como Ina May Gaskin, uma das primeiras a introduzir o parto domiciliar por lá. Foi quando surgiu a ideia da série Parto pelo Mundo, que mostraria os diferentes tipos de parto humanizado em vários países. Meu marido e eu fizermos uma produção independente, exibida no ano passado pelo GNT. De todos os 25 países que visitei, a Nova Zelândia foi o que mais me surpreendeu. Noventa e oito por cento das gestações são acompanhadas por parteiras, e a mulher só passa pelo médico se desenvolver alguma doença no período. Quando falei sobre a situação do Brasil, as mulheres não entendiam por que as brasileiras faziam tantas cesáreas.
Em 2010 fui aprofundar minhas pesquisas nos Estados Unidos, onde fiquei um ano. Fiz vários cursos e acompanhei o trabalho de parteiras como Ina May Gaskin, uma das primeiras a introduzir o parto domiciliar por lá. Foi quando surgiu a ideia da série Parto pelo Mundo, que mostraria os diferentes tipos de parto humanizado em vários países. Meu marido e eu fizermos uma produção independente, exibida no ano passado pelo GNT. De todos os 25 países que visitei, a Nova Zelândia foi o que mais me surpreendeu. Noventa e oito por cento das gestações são acompanhadas por parteiras, e a mulher só passa pelo médico se desenvolver alguma doença no período. Quando falei sobre a situação do Brasil, as mulheres não entendiam por que as brasileiras faziam tantas cesáreas.
Nossa volta ao mundo durou nove meses, que coincidiram com a gestação da minha irmã Tainá. Quando cheguei, atendi o parto do meu primeiro sobrinho, Caio, no sítio onde eu nasci em Gravatal, a duas horas e meia de Florianópolis, onde meus pais vivem até hoje. Ele chegou em uma noite gelada de inverno, em um quarto com lareira. Estavam presentes meus pais, minha irmã mais velha, meu cunhado e uma amiga obstetra. Tainá começou a sentir as primeiras contrações à noite. Às 2h meu pai me acordou e comecei a ajudá-la com massagens e exercícios. Amanheceu, e o trabalho de parto continuou até as 21h. Minha irmã tentou ter o bebê na banheira, mas não se sentiu confortável. Caio nasceu com ela na posição de quatro apoios. Em oito anos de profissão e 450 partos, posso dizer que esse foi um dos mais emocionantes da minha vida. Parecia que eu estava parindo junto! É assim que eu imagino o meu parto também, um momento intenso e maravilhoso. E, como sou parteira, sinto que eu mesma vou querer receber meu bebê e trazê-lo para os meus braços. (Em depoimento a LETÍCIA PIMENTA)
Fonte :Vogue
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