#segundadoparto Relato da Carol Marino VBAC

Então o menino nasceu. Uma das raras ocasiões em que a vida me deixou sem palavras, sem ter o dizer, apenas sentir, apenas viver e reviver.
O menino nasceu no dia 15 de abril, as 12:50, depois de sete horas de trabalho de parto. Um parto lindo, digno, respeitoso, onde eu estava acompanhada de um amor antigo e de pessoas que aprendi a amar ao longo da jornada.
Após ter o parto do Luiz roubado por um médico que indicou uma cesárea desnecessária, levei anos para perceber o que tinha acontecido. E antes mesmo de engravidar novamente tinha a certeza de que isso não me aconteceria de novo.
Foram 9 meses de preparação, informação e de busca por um profissional que me assistisse respeitando minha opção por um parto normal. Passei por dois médicos no ínicio da gestação, até que, na terceira tentativa, conheci a Dra. Martha Colvara Bachilli. Eu estava então com 24 semanas. Saí da primeira consulta chorando de tão feliz. Sai do consultório e já liguei pro Felipe: “To apaixonada”. Ter encontrado essa médica maravilhosa me rendeu algumas noites de sono tranquilas e me tirou um peso das costas.
Nessa época também conheci a doula mais maravilhosa que existe nesse mundo, a Janine Scheffer Lummertz. Eu estava, enfim, pronta para receber meu bebê.
Diagnosticada com diabetes gestacional, além da cesárea anterior, a Dra. Martha nunca cogitou uma cesárea. Tudo controlado com acompanhamento no endocrinologista, monitoramento constante e dieta. Resultado final: apenas 8 quilos a mais do início ao final da gestação e glicemia perfeita.
Em todos os momentos que o plano de um parto normal era ameaçado, a Martha me tranquilizava dizendo que existiam estudos, que ela iria se informar e que tentaria me apresentar uma alternativa. Meu parto poderia ter que ser induzido com 39 semanas, caso a glicemia estivesse fora de controle, o que seria problemático já que a cesárea prévia aumentaria o risco de ruptura uterina. Era a Martha lá procurando sobre formas de indução natural e eu aqui negociando com Renato para que ele viesse sozinho antes das 39 semanas. No fim, tudo certo. Diabetes controlada e 3 cm de dilatação desde as 37 semanas, o que facilitaria uma possível indução com ocitocina, que não me traria risco de ruptura.
Durante todo esse tempo a Janine esteve ao meu lado, tirando todas as dúvidas, as minhas e as do Felipe, nos indicando boas leituras, nos explicando como seria o trabalho de parto, o parto, como meu corpo funcionaria. Não consigo imaginar como seria chegar ao final da gestação sem esse suporte.
Uma semana antes do Renato nascer amanheci com cólicas. Manda whats pra Janine. Gases? Não… pródromos! Um “ensaio” pro trabalho de parto que estava por vir. E assim se iniciou o processo de aprender a respirar fundo, controlar a ansiedade e se conectar com meu corpo. Foram sete dias na rotina: cólica, contração, monitora o tempo de duração, monitora o espaçamento entre elas, chuveiro quente.
No dia 15, quando acordei com cólica, pensei: “Ah, lá vamos nós de novo com os malditos pródromos”. Acordei o Felipe, avisei que estava indo pro chuveiro. Mandei mensagem pra Janine, porque ela pediu pra sempre dar um sinalzinho pra ela ficar alerta e ter tempo de traçar o plano da rotina do dia. Cinco minutos no chuveiro, gritei pro Felipe mandar mensagem de voz pra Janine, porque, finalmente, o trabalho de parto tinha começado, e começou com tudo! “Pede pra ela vir rápido senão ele vai nascer no chuveiro”. Eu já estava com 3 cm de dilatação, e as contrações já começaram com um intervalo curto entre elas.
A Janine chegou na minha casa e logo em seguida já fomos para o hospital. Finalmente a hora tinha chegado.
Chegamos no hospital por volta das 9 da manhã. E aí conheci o fantástico mundo da Partolândia e, justamente aí, perco as palavras para descrever. Emoção, dor, amor, dor, gratidão, dor, conexão, dor, mais emoção. Um turbilhão de sentimentos, uma força inexplicável. Nos poucos momentos em que era tomada pela lucidez, abria os olhos e via todo mundo calmo, sorrindo, tranquilo. E fechava os olhos novamente sabendo que eu estava em boas mãos.
Foram algumas horas sentada na bola de pilates, recebendo massagens para relaxar e aliviar a dor, ouvindo músicas que foram escolhidas especialmente para esse momento, em uma sala na penumbra, com velas acesas e incensos. Rodeada de amor, de gente de bem, sendo amparada por pessoas que me respeitam e que amam o que fazem. Acompanhada pelo homem que escolhi para estar ao meu lado pelo resto da vida.
Fui para o chuveiro depois de algum tempo e ali comecei a entrar no período expulsivo do parto. O momento de conhecer meu bebê estava cada vez mais perto.
As 12:50 o mundo recebeu Renato, com seus 3,660 kgs e 49 centímetros. Saiu e veio direto para o meu colo. Pari na cadeira de parto, que é uma cadeira bem baixinha que simula a posição de cócoras, com a Janine me dando apoio nas costas, Felipe me ajudando a fazer força puxando o rebozo e a Martha sentada no chão, de pernas cruzadas, só esperando.
Novamente sem palavras. Nunca vou conseguir palavras suficientes pra descrever a sensação de segurar seu filho pela primeira vez. Sempre ouvimos falar que o amor é uma força poderosa. É mesmo. Foi incrível. Sentir naquele quarto de hospital a força de todo amor que existe nessa vida. Sentir que sou capaz de fazer qualquer coisa que sentir vontade. Sentir uma felicidade tão plena, tão arrebatadora, que a sensação é de estar vivendo em outra realidade. Sentir o cuidado que a minha doula me dispensou, o carinho, o amor. Sentir o Felipe ali partilhando daquele momento juntos.
Pari meu filho da forma mais natural que poderia ser. Sem qualquer intervenção médica, sem sorinhos, sem analgesia, sem cortes, sem exames de toque e sem pontos. Algumas das fotos que vocês estão vendo ali embaixo foram tiradas pela Martha. Não porque ela foi desnecessária, porque ela foi parte fundamental do sucesso nessa minha experiência de parir, mas porque ela soube respeitar o poder do meu corpo de parir e do meu bebê de saber nascer, sem intervenção de qualquer espécie. Porque ela é sábia. Ela sabe, apesar dos anos de formação acadêmica e dos anos de experiência profissional, que nascer é a coisa mais natural que existe e que nosso corpo está preparado para isso. O cordão umbilical foi cortado pelo papai, depois de ter parado de pulsar, e meu bebê permaneceu o tempo todo comigo, exceto por poucos minutos em que foi levado pela equipe da pediatra por precaução, já que havia mecônio na bolsa (que foi rompida naturalmente cerca de uma hora antes dele nascer).
Jamais na minha vida vou conseguir agradecer o suficiente a Martha e a Janine. Gratidão, gratidão, gratidão. Minha eterna gratidão a toda paciência, apoio, empenho, dedicação. Obrigada por respeitarem minha escolha, pelo carinho, pelo empoderamento. E me desculpem por toda ansiedade, pelas milhares de mensagens com perguntas e dúvidas. Vou guardar esses momentos juntas com todo o amor. Sempre acreditei que mulheres juntas tem uma força absurda e só pude confirmar isso mais uma vez nessa jornada. Juntas somos mais fortes e o mundo precisa de mais mulheres como vocês, capazes de dar o empoderamento que todas as mulheres precisamos. Vocês são incríveis. Todo meu amor! <3
Ao meu amor, Felipe, os dias que se seguiram depois que nosso filho nasceu transmitiram tudo o que precisava dizer pra você. Todas as noites, depois que Renato adormecia, os olhares, os sorrisos, as lágrimas, os toques. Nos reencontramos. Obrigada pelo companheirismo, por ter acreditado que eu seria capaz, por ter permanecido do meu lado quando as coisas ficaram sombrias e tristes. Obrigada por você ser o pai das duas coisas mais preciosas que eu tenho nesse mundo. Ter você do meu lado, recebendo nosso bebê junto comigo, só me mostra que você é o homem da minha vida. Amo você.

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